Eu ainda não consegui fazer minha lista de dez melhores discos de todos os tempos, mas nela, com certeza, estariam: Tigermilk, do Belle and Sebastian, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beattles, e Ok Computer, do Radiohead.
Esses três, assim, de cara, você escuta do começo ao fim, paralisado ao lado do som. O disco abre pra se arrombar com a faixa Airbag. O riff inicial parace que controla a tua cabeça, que fica dando voltas sem parar. Aí eles acham pouco e lascam Paranoid Android, um torpedo de três partes que para os produtores nunca deveria ter sido o primeiro single do disco, com seus mais de seis minutos. Na terceira, Subterranean Homesick Alien, eles te levam pra outro lugar, pra fora do espaço mesmo, para uma melancolia que parece um leitmotiv do disco. Aí abro um parêntese nessa resenha caótica pra falar dos versos finais de Ok Computer. Nessa última, termina com uma sequência platônica: “I’d show them the stars/And the meaning of life/ They’d shut me away/ But I’d be all right”. (Eu lhes mostraria as estrelas/ e o sentido da vida/ Eles me poriam pra fora/ Mas eu ficaria bem). E Mas no finalzinho mesmo, ele revela: “I’m just uptight” (Eu só estou irritado). O final de Paranoid Android, uma música que tem fúria na veia: “The panic, the vomit/ God loves His children, God loves His children, yeah!”. São finais magníficos, pra mim. A quarta música, Exit music (For a film) mantém a melancolia da anterior, mas você nota por baixo de tudo uma ira contida, travada na medida certa, pra deixar o nó na garganta. Let Down, mais melancolia. No meio do disco outro hit: Karma Police, que tem um clipe fenomenal. Fitter Happier é um tapa na cara, uma provocação. Electioneering está no disco errado, porque soa a The Bends, mas eles tão com crédito, porque Climbing Up the Walls recupera todo o poder do disco, toda fúria contida, envolta naquela melancolia de que eu falava. Quando você já está quase com lágrimas nos olhos, depois do solo final dessa faixa e dos gritos de Yorke, eles vêm com um riffizinho destruidor, algo perigoso pra se ouvir sozinho no apartamento. Falo de No suprises. Nem vou falar do clipe. Quero falar de como você se sente um idiota com o que está fazendo com sua vida depois de ouvir essa música. Melancolia agora com ironia que beira o sarcasmo, o que se repete em Lucky, penúltima faixa. Veja as primeiras imagens do clipe pra entender. E tem a alfinetada em Tony Blair (“The head of state has called for me by name/ but I don’t have time for him”). A última faixa, The Tourist, parece um anticlímax, se comparada com a primeira. E é isso mesmo, você sai do disco despedaçado, querendo gritar, querendo chorar, querendo as pupilas tortas de Thom Yorke pra ver o mundo do jeito que ele é. Mas ele vem e diz: “Hey man, slow down, slow down/ idiot, slow down, slow down”. E você obedece.
photo credit: Dedi Sharabi
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