Não digo que você não pode avançar na escrita do romance se não desenvolveu o suficiente seus personagens, pelo menos o protagonista e as forças antagônicas.
Às vezes, é durante a escrita que você vai descobrindo do que esses monstrinhos são capazes. É o que aconteceu com Ademir e Ignácio em meu Felicidade (Patuá, 2017).
Mas quando você se dedica à história de fundo das personagens, quando as coloca em cena com seu passado, passa a prever os caminhos que devem seguir no livro e evita surpresas e centenas de páginas perdidas.
O que leitor sabe sobre as personagens é a ponta de um iceberg. O autor deve conhecer as profundezas, as sombras, as frustrações que fazem-nos o que são. Ainda que isso se dê in media res, sem que se planeje totalmente cada detalhe. Apesar disso, os romances que funcionam são os que privam os leitores de longas histórias de fundo.
Alguém disse – se você lembrar quem foi, me diga nos comentários – que um romance deve começar o mais próximo se seu final. Dedicar dezenas de páginas a algo que não pertence à ação do romance não ajuda essa premissa e se a história de fundo não for bem dosada, tende a retardar o que realmente interessa: a jornada das personagens no recorte de vida que você escolheu apresentar.
Estou escrevendo histórias de fundo da família de uma personagem. Certeza que serão páginas que não entrarão no livro ou que se transformarão em uma fala num diálogo. Mas como são importantes. Por outro lado, um amigo escritor disse: escrever esquemas, diagramas e anotações não é escrever o livro. Pior que é verdade. Histórias de fundo podem imobilizar a escrita? Que acha?
2 Comentários
Pingback:Unidade - Wellington de Melo | escritor
Postado às 09:59h, 30 novembro[…] histórias que pretendia contar eram, na verdade, histórias de fundo (já falei sobre isso aqui). Tratavam-se daquela parte oculta do iceberg que, se me ajudavam a entender o dínamo que movia […]
Pingback:Página - Wellington de Melo | escritor
Postado às 08:50h, 06 julho[…] revela e, com ela, aspectos desconhecidos do texto. Aqui, traço um caminho oposto ao da postagem anterior, em que falei sobre a escrita de histórias de […]