Reencontrei uma versão antiga do romance com umas 90 páginas. E não é que ainda funcionam muito bem?

Sempre achei que o romance é uma manada de búfalos que você tenta precariamente conduzir para um lado, mas ele faz o que quer.

O máximo que faz é deixar que um ou outro se desgarre para poder se concentrar nos mais obedientes. Em determinado momento da escrita de meu último romance, Emilio, percebi que havia mais histórias do que comportaria o livro. Deixei, então, que essas histórias ficassem de lado, e enxuguei o livro.

É sempre aconselhável deixar o texto guardado e voltar a ele tempos depois: se ainda se sustentar, maravilha; se não, vai para o limbo dos textos natimortos.

No primeiro post, falei sobre primeiras frases. Pois bem, recuperei dia desses uma primeira versão do que será este novo romance, com umas 90 páginas, em que tinha esse começo pronto. Eu já havia escrito outras versões, mas curiosamente, nesta versão abandonada, havia várias soluções de ritmo que me agradavam. Saí marcando tudo o que me interessava, tudo o que já havia usado em Emilio e que já não servia. Servia?

Um bom começo

Claro! Me dei conta de que funcionava demais e comecei a datilografar essa versão. — Sim, eu gosto de fazer um primeiro rascunho à máquina, mas depois falo sobre isso. — Nesse processo, fui ajustando algumas informações ao novo projeto e cheguei a uma versão mais ou menos satisfatória. Pelo menos nesta etapa da escrita, em que está tudo muito nebuloso e instável.

É sempre aconselhável deixar o texto guardado e voltar a ele tempos depois: se ainda se sustentar, maravilha; se não, vai para o limbo dos textos natimortos. Neste caso, a versão antiga, guardada em meu subconsciente, macerada pelo tempo, esquecida na pasta de arquivo de “sobras” de Emilio, voltou com a potência que eu queria.

O que há nessas páginas?

Há um falso começo, com uma cena curta, que corta para uma cena in media res, em que o protagonista já está se deslocando para o cenário onde se dá boa parte do livro (falei sobre ele no post anterior). Percebo agora, escrevendo este diário, que meus romances começam com esse contraste de cenas, uma mais descritiva e outra com mais movimento. Felicidade e Estrangeiro no labirinto começam com cenas de contemplação. Emilio tem o falso começo com a frase de abertura que impactou a tantos, e depois a cena de Cláudia no aeroporto. Será um cacoete ou uma marca?

Mas voltando às primeiras páginas: claro que o protagonista desta versão não é o mesmo da que estou trabalhando, e isso deve ter impacto na aceitação de tudo. Apesar disso, por enquanto, me pareceu uma boa forma de começar. O problema é que tenho essa coisa de gostar de esquematizar minimamente o livro antes de começar. Por isso, estou às voltas com o que chamo de caderno-conceito. Mas sobre isso, falo no próximo post.

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