Na postagem anterior eu falei como Cláudia protagonista de Emilio,  meu novo romance que sai este semestre, ganhou espaço e desbancou outros personagens para ter direito de contar a história. Mas isso não significa que sua jornada e a única nem a mais importante do romance. Coadjuvantes têm também suas próprias jornadas, seus arcos narrativos, que muitas vezes são obscurecidos ao longo do processo de escrita. 

Quando o foco narrativo passou ser centrado em Cláudia e seu retorno a um país que a odeia para cumprir uma  promessa, já havia construído outros arcos narrativos para os antigos pretendentes a narrador(a). Foi preciso abdicar de contar toda a história que havia sido pensada para estas personagens, cenas inteiras foram desprezadas para que se mantivesse o ritmo e a coesão da trama. 

Abandonar um coadjuvante

Em alguns momentos, abandonar essas personagens no limbo das historias incompletas deu uma tristeza, mas não  havia o que fazer: era isso ou prejudicar a narrativa. Em alguns momentos, deixar essas histórias em suspenso, mesmo quando eu sei como acabariam, foi benéfico para o romance. Acredito que os grandes romances que li na vida deixam sempre uma sensação de vazio, de incompletude, e tento sempre buscar isso. 

Em Felicidade, não sei se Ademir salta para a morte na cena final, cumprindo a missão do Movimento Cidade Plana, ou se foge com o dinheiro deles. Em Estrangeiro no labirinto, não fica claro o destino da prostituta que narra a história do assassino. Mas aqui falo dos protagonistas. E sobre os coadjuvantes? Seu destino é igualmente incerto, e acho bom que seja assim, são mais vazios que vão sendo deixados para que o leitor preencha. 

Futuro incerto

Mas acho que em Emilio o desejo dos coadjuvantes de fechar suas histórias foi o mais intenso. Dois ou três morriam em versões anteriores, hoje ja não sei se morrem. Como você pode não saber, podem perguntar os leitores. Não é mentira, realmente não sabemos, e descobrir com os leitores esses destinos incompletos e um dos grandes baratos de escrever narrativas. 

Uma última coisa que queria dizer sobre o arco dos coadjuvantes e que neste romance senti que suas vozes se tornaram mais vívidas por conta das tentativas desocupar espaço na trama. É como se o fracasso lhes tivesse engrossado o couro e, por terem essas histórias ocultas, que talvez nunca serão totalmente conhecidas, esses coadjuvantes tivessem encontrado outra forma de brilhar.

Memorabilia

Neste projeto de diário de escrita há uma seção chamada “Memorabília”, que você pode encontrar voltando a página. Nela, vou incluir material exclusivo para os assinantes, que deve incluir rascunhos de versões anteriores do romance. Nelas, provavelmente haverá cenas deletadas em que se poderá vislumbrar o destino de alguns dos personagens, um destino abandonado nas reescritas.

Isso só vai acontecer depois do lançamento, para um grupo reduzido de seguidores, mas se quiser já garantir seu espaço e ter acesso a mais esse conteúdo dos bastidores da escrita, basta entrar no nosso grupo de WhatsApp, clicando no botão abaixo. 

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