A polêmica recente entre a crítica Flávia Iriarte e a escritora Maria Valéria Rezende (foto), por conta de uma resenha negativa da primeira ao livro Outros cantos, da última, reacendeu o debate sobre as dinâmicas de legitimação no campo literário, sobre o local e o papel da crítica para o mercado.
Um vídeo postado no canal do Youtube de Iriarte repercutiu e teve reações divididas, entre apoiadores da resenhista e da autora. Até o fechamento desta edição do Pernambuco, o vídeo contava com um pouco mais de 2 mil visualizações – a média do canal é de 4,5 mil. Maria Valéria Rezende compartilhou a resenha nas redes sociais de forma bem-humorada – e provocativa –, mas o comentário não agradou a resenhista, que publicou uma resposta em seu perfil no Facebook. Treta montada.
Tretas literárias históricas
Tretas entre críticos e escritores estão longe de ser uma novidade. Silvio Romero vs. Machado, Saramago vs. Lobo Antunes, Nabuco vs. Alencar. Mas poucas se assemelham à baixaria entre Michael Crichton e o crítico Michael Crowley, ambos norte-americanos. Em 2006, o escritor lançou um romance no qual figurava o personagem Mick Crowley, jornalista acusado de pedofilia e com um… pênis pequeno.
A pior crítica é o silêncio
A diminuição dos espaços de crítica nos jornais e o natural retardo da Academia em realizar leituras da produção contemporânea fizeram com que a internet se revelasse um canal importante de militância da crítica literária e uma arena para debates – nem sempre civilizados.
Mas se é mantido certo grau de respeito, disputas entre autores e críticos são benéficas para o processo de formação dos leitores e estimulam o mercado – casos recentes de autores que se valeram e até estimularam celeumas comprovam a tese. Tanto críticos como autores podem tirar proveito desse tipo de conflito: uma resenha negativa acaba por despertar a curiosidade do público para o livro; uma reação arisca de um autor acaba lançando luz sobre o crítico. No final, o silêncio é a pior crítica que um autor pode receber.
Texto publicado originalmente na coluna Mercado Editorial, do Suplemento Pernambuco, junho de 2018.
Sem comentários