Recentemente, o conteúdo sugestivamente racista de um livro didático foi denunciado por mãe na internet. Em uma das atividades, uma família branca ri sentada à mesa; outra de negros, triste. “Circule o lar em que as pessoas são felizes”, é a tarefa. Segundo a editora, contatada por este JC, isso não é racismo. É uma questão de “interpretação”. Em outra atividade, pede-se para ligar as pessoas a suas profissões, só uma é negra. Qual a profissão que é designada a ela? Faxineiro. Mais interpretação.
Nos primeiros anos de formação sedimentamos nossa personalidade. Os nãos ou os sins que ouvimos vão moldando quem seremos – há adultos que deveriam ter ouvido uns bons nãos. Esse é o motivo pelo qual os educadores responsáveis pelos primeiros anos das crianças na escola deveriam ser os mais bem remunerados, para poder capacitar-se cada vez mais. Os modelos de sociedade expostos durante esse período se enraízam e farão parte das visões de mundo do futuro adulto. Será preciso lutar contra esses modelos para não os reproduzir, como os estereótipos sexistas (isso é coisa de menina), de classe (eu estou pagando) e racistas (tipo essas mensagenzinhas subliminares que vemos em livros didáticos).
Na matéria, publicada no JC Online, lemos que a editora Formando Cidadãos (ironia?), sediada no Recife, adotou tom agressivo contra a mãe: querem saber por que postou “sem falar conosco”. Jogar o ônus da “interpretação” para a mãe? Os editores afirmam que o livro faz parte de uma coleção com 1.000 páginas e que a mãe se atém a apenas uma (sic). Há algo que é preciso dizer à editora Formando Cidadãos e a seu “departamento jurídico”: não se pode admitir nem uma linha racista, homofóbica, que propague qualquer tipo de ódio, senhores editores, senhores advogados.
“O que tem de errado com as imagens?”, “isso é patrulhamento ideológico”, “ditadura do politicamente correto”. Não se pode tolerar a intolerância. Paradoxal? É que esse bichinho vai entrando assim, com sorrisinhos, piadas de mau gosto, e vai tomando corpo, já é quase um filhote feito, até anda em quatro patas quando ignoramos essas barbaridades e “deixamos passar”. Não deixaremos.
Professores e pais devem estar muito atentos. A avaliação do material didático é responsabilidade compartilhada entre família e escola, como várias outras questões que, comodamente, muitas vezes os pais relegam à instituição, como o cardápio da cantina – mas aqui já é material para outro artigo.
Professores e pais devem estar muito atentos. A avaliação do material didático é responsabilidade compartilhada entre família e escola, como várias outras questões que, comodamente, muitas vezes os pais relegam à instituição, como o cardápio da cantina – e aqui já é material para outro artigo.
Artigo publicado no Jornal do Commercio, no Caderno Opinião, dia 7 de junho de 2017.
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