Literatura e participação política

Já é um clichê dizer-se que a literatura é uma arte solitária. Eu tenho minhas dúvidas por vários motivos. Primeiramente, ao escrever, você tem a companhia de tudo o que já leu, então nunca você está sozinho. Segundo, pelo menos para mim, não há como pensar o ofício do escritor desconectado de seu tempo. Claro que aqui entramos no campo das especificidades, talvez de uma poética, mas não deixa de ser uma forma válida de pensar o ofício, que me perdoem os nefelibatas.

Mas claro que não ignoro que essa pecha de solidão criativa acaba sendo um estereótipo reproduzido seja por preguiça, seja por conforto. E, com efeito, não é difícil comprovar a pouca participação de escritores em momentos de participação política, muito embora o momento atual do país tenha permitido ver cada vez mais escritores e escritoras se posicionando, e isso é muito bacana. No entanto, como gestor público, percebo que é sempre mais fácil mobilizar o elo mediador da cadeia do livro (bibliotecários, professores, mediadores de leitura etc.) do que o elo criativo, e aí estão os escritores e escritoras.

O momento atual da política brasileira, com um grupo político que chegou ao poder a nível federal graças a um golpe, feito de manobras jurídico políticas, que tiveram apoio massivo da grande mídia, afeta, para o bem ou para o mal, a participação cidadã. Os dados de abstenção das eleições municipais de 2016 dão um sinal claro nesse respeito. Há uma descrença com respeito ao poder público, que na área de cultura reverbera na (não) participação de profissionais do setor em espaços de debate e construção de políticas, mesmo quando envolvem editais de fomento, que no caso de Literatura, no estado de Pernambuco, distribuem em torno de 1,2 milhões anualmente para os projetos aprovados.

PELLLB

Este ano, a Secretaria de Cultura iniciou dois processos importantes: a consolidação do Sistema Estadual de Cultura, com a instituição do Conselho Estadual de Política Cultural e o Conselho de Preservação Cultural; além da deflagração do processo de elaboração do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (PELLLB). O interessante é que o plano setorial de literatura corre em paralelo com a elaboração do Plano Estadual de Cultura, uma decisão da gestão que consideramos acertada, tendo em vista que o já existe um alinhamento nacional dessas políticas para o setor.

Já foram realizadas escutas no Sertão do São Francisco, Região Metropolitana Norte e Sul. Em todas elas, a presença de escritores ainda é pequena, mesmo considerando a quantidade de autores que também são professores da rede pública e que muitas vezes não se apresentam como autores. Em um país que engatinha na profissionalização do escritor, não é de estranhar. Como então fazer com que autores e autoras participem dos processos que determinarão as políticas do estado para o segmento nos próximos anos? O interesse não deveria ser deles? Talvez seja mais complexo.

ESCUTAS

Mas quando falamos do PELLLB, é crucial a participação de todos os elos da cadeia do livro, tanto autores, como designers, editores e outros profissionais, para evitar que os problemas que afetam o segmento não sejam plenamente percebidos. As escutas que estão sendo realizadas em todas as regiões de desenvolvimento (RD’s) serão muito úteis para o diagnóstico do setor no estado e para a tomada de decisões com respeito às propostas que serão incluídas no plano.

No próximo dia 16 acontecem as escutas da Região Metropolitana Centro, no Recife (Ginásio Pernambucano), em dois horários, às 14h e às 18h30. A escuta do Sertão do Pajeú acontecerá em Serra Talhada, dia 3 de dezembro, no Museu do Cangaço, a partir das 9h. As escutas do Sertão Central e Sertão de Itaparica acontecerão em Salgueiro (30/11) e Floresta (2/12), respectivamente, nas GRE sediadas nos municípios. Já está sendo fechada a escuta do Sertão do Araripe e Sertão do Moxotó. As escutas são abertas a toda a sociedade e é essencial que todos participem deste momento decisivo para a política cultural do nosso segmento.

GRUPO EXECUTIVO

Além das escutas, o processo de elaboração do PELLLB envolve a participação da sociedade civil em um Grupo Executivo, que será responsável pela sistematização dos dados colhidos nas escutas e colaborar com o poder público na elaboração de propostas que comporão tanto o plano como a Lei do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas. As pessoas interessadas em participar do processo de escolha dos seis representantes da sociedade civil devem, seja como eleitores seja como candidatos, devem se inscrever até o dia 10. Neste link é possível encontrar as informações necessárias para a inscrição, que pode ser feita de forma presencial ou online. O fórum específico para eleger os membros da sociedade civil no grupo executivo acontece no próximo dia 17. Todos lá!

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