O trabalho do Mariposa Cartonera nunca dissociou questões estéticas de questões éticas. Aliás, não concebemos uma coisa sem a outra. Por isso, no ano passado nos integramos ao movimento Coque (R)Existe e organizamos uma antologia para dar suporte à causa, oferecendo uma oficina na comunidade, que estava sendo ameaçada por um projeto imobiliário de construção de um “polo jurídico”. Após as várias manifestações de vários setores da sociedade, o projeto foi suspenso. Por isso este ano estamos encampando a causa do #OcupeEstelita, contra o projeto de construção de doze torres monstruosas no bairro de São José, o que vai trazer impactos negativos tanto ambientais, como para a memória e mobilidade.
Organizamos uma oficina dentro da ocupação, dias antes do fatídico dia 17 de junho, quando foi feita a violenta reintegração de posse. A ideia foi instrumentalizar as pessoas da ocupação de modo que pudessem reproduzir os livros posteriormente e continuar vendendo exemplares para reverter para a causa. Contatamos autores de várias partes do país e inclusive recebemos contribuições da Espanha e Argentina. São quarenta e oito autores em dois volumes que serão vendidos por R$ 15 cada. Todo o licor será revertido para o movimento e esperamos que possa haver outras edições produzidas pelos acampados. O título da antologia é INQUEBRÁVEL, ESTELITA PARA CIMA, e surgiu de uma conversa com Sidney Rocha, que sempre dá ideias bacanas para o Mariposa. Tivemos a ideia de, na capa, criar uma intervenção sobre uma frase normalmente vista em caixas: Frágil, Este lado pra cima. O legal é que a arte, criação da designer editorial Patrícia Lima, é uma intervenção, sobre uma intervenção de uma intervenção. Explico: uma capa cartonera já é uma intervenção sobre o discurso comercial: pinta-se o papelão, intervindo sobre os textos e imagens das caixas. Aplicamos o título, reproduzindo um intervenção comercial (Frágil etc.). Logo, intervimos outra vez, aplicando um segundo estêncil com “Inquebrável” sobre o frágil e mudando “este lado” para “Estelita”. A luta entre esses discursos tem tudo a ver com a luta travada pelo próprio movimento e sua história de resistência, totalmente afim do adjetivo do título. Aguardamos todos no lançamento, que acontece no próximo dia 6 de julho, na Praça do Cabanga, a partir das 15h.
1 Comentário
Pingback:O livro e seus mercados - Wellington de Melo | escritor
Postado às 15:30h, 26 maio[…] entanto, confundir o fenômeno cartonero com ativismo ou trabalho social é um equívoco: ainda que parta de paradigmas de consumo e comércio […]