Selo Mariposa Cartonera lança três livros em Recife, em edições artesanais com capas de papelão
Fazer livros artesanalmente, com capas de papelão pintadas à mão. Não só isso: desenvolver um trabalho colaborativo em rede, que une diversas editoras alternativas no mundo com o objetivo de democratizar o acesso à obra de autores contemporâneos. Essa é a proposta do movimento cartonero (do espanhol “cartón”, papelão), cujo braço no Recife é a editora Mariposa Cartonera, que esta semana lança três títulos.
Os livros Castilho Hernandez, o cantor e sua solidão (Sidney Rocha), b de bruxa, bonnus bonnificarum (Micheliny Verunschk) e Juro por Deus que é um final feliz (Bruno Liberal) ganharam edições de 50 exemplares, numerados e assinados, com capas em papelão pintadas manualmente. Cada um dos livros teve um conceito diferente na construção do projeto. Para o livro de Sidney Rocha foram usadas capas de LPs antigos, uma referência ao conto homônimo que empresta nome à coletânea de contos; as capas do livro de Verunschk são em tons de cinza com borrifos que lembram sangue e um misterioso gato preto na quarta capa (um grimório de bruxa?); os livros de Bruno Liberal foram pintados em oficina realizada no Polo Cultural da Bomba do Hemetério, por moradores do bairro.
Trabalho colaborativo
O selo Mariposa Cartonera ganhou colaboradores de peso nessa nova empreitada: o novo projeto gráfico é assinado por Sidney Rocha e pela designer Patrícia Lima. Todos os livros lançados em 2014 também terão a contribuição especial do cartunista Miguel Falcão, que produziu caricaturas dos autores. “É um trabalho colaborativo, que subverte um pouco a lógica do mercado editorial tradicional”, esclarece o fundador do selo, o escritor Wellington de Melo, que complementa afirmando que o maior intuito é fazer a literatura circular, por isso o trabalho em rede com outras editoras cartoneras. “Compartilhamos nosso acervo com outras editoras parceiras, como o Severina Catadora (Garanhuns). Não se trata de uma edição artesanal comum, pois essa integração maximiza a distribuição e amplia a base de leitores dos autores”, esclarece.
Lançamento
Foi-se o tempo em que lançamentos de livros se limitavam a coquetéis maçantes e caretas. “Acredito que os lançamentos precisam ser experiências tão memoráveis como os livros que serão lidos”, afirma Wellington de Melo, que cuidou dos detalhes do evento. A começar pela data escolhida: 21 de março coincide com o equinócio de outono, evento que as tradições pagãs associam a ritos de passagem e que dialoga diretamente com o conteúdo do livro b de bruxa – bonnus bonnificarum. A decisão de fazer um lançamento coletivo está ligada à proposta de promover o máximo de encontro, uma vez que os leitores de um autor podem passar a conhecer o trabalho de outro. Haverá um menu especial, criado pelo chef Lucas Muniz, inspirado nos livros e nos autores que lançam livros. O evento contará com uma radiola de fichas que tocará um repertório especialmente pensado para o lançamento, que começa às 20h, na Galeria Café Castro Alves, Rua do Lima, 280 – Santo Amaro, Recife.
Curiosidades
Todos os autores cederam os direitos da segunda edição do livro para o selo Severina Catadora, de Garanhuns. A proposta é ampliar o acervo daquela iniciativa, de modo a proporcionar uma alternativa de renda. Bruno Liberal cedeu os direitos da primeira edição para o Polo Cultural da Bomba do Hemetério, onde foram produzidas as capas.
O livro de Micheliny foi publicado inicialmente de forma aberta no Facebook e contou com a colaboração dos leitores, que faziam comentários a cada postagem/poema.
O conto Esse último sorriso, do livro Juro por Deus que é um final feliz, conquistou o 3° lugar no I Prêmio Internacional de Literatura Cartonera, realizado pela Cephisa Cartonera.
Todos os livros no Mariposa Cartonera são registrados com uma licença Creative Commons, que permite reprodução por parte de outros selos e venda, mediante autorização dos autores.
O movimento cartonero nasceu na Argentina, durante a crise econômica de 2003. Hoje são cerca de 200 editoras que fazem livros com capas de papelão em todo o mundo.
Pernambuco realizou o primeiro encontro internacional cartonero do mundo durante o Festival de Inverno de Garanhuns de 2013, quando se completaram 10 anos do movimento. Alguns meses depois foi realizado o primeiro encontro internacional da Europa, em Barcelona.
Serviço
Livros: Juro por Deus que é um final feliz (Bruno Liberal); b de bruxa, bonnus bonnificarum (Micheliny Verunschk; Castilho Hernandez, o cantor e sua solidão (Sidney Rocha).
Editora: Mariposa Cartonera
Preço: R$ 10,00
Lançamento: Sessão de autógrafos com os autores, com radiola de fichas para os convidados
Data e horário: 21 de março, a partir das 20h
Local: Galeria Café Castro Alves, Rua do Lima 280, Santo Amaro, Recife.
Sem comentários
Desculpe, fechado para comentários.