Pensei em C. Sua mãe viria pegá-lo? Não adiantaria. J. terminava finalmente o depoimento. Uma folha de papel impressa com aquelas matriciais antigas, que zumbiam traçando o destino de C. como a máquina cheia de agulhas da Colônia Penal de Kafka. Só que, ao contrário, era apenas o começo da dor. C. iria para o presídio, provaria finalmente do terror dos homens. Seu cabelo pintado seria motivo de chacota? Violariam seu corpo na primeira noite, como dizem que acontece? Se ele tivesse corrido, se não tivesse sido capturado pelo roubo do celular de J.? Em algumas semanas ela ganharia outro celular das tias. Incluiria o roubo em outra de muitas de suas peripécias e presepadas. C. talvez roubasse outros celulares, carteiras, joias no Carnaval. Talvez fosse pego, talvez não. Pensei no peso do celular de J. Quantos gramas tinha? O boyzinho seria liberado, tenho quase certeza. Doze gramas. Quantos gramas pesava o celular de J., quantos gramas selaram o destino de C.? Saí de lá com essas perguntas na cabeça e um pouco de sono.

 

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