O site esteve fora do ar diversas vezes durante o feriado. Cada vez que isso acontece eu fico com medo de perder tudo que publiquei nesses anos. Já mudei de servidor uma vez e o processo é sempre doloroso, de recuperar todo o banco de dados, cuidar para que cada coisa fique no seu devido lugar.
É como mudar de casa mesmo: aquele pânico de perder as coisas. A diferença é que internet não tem cabelo. Não tem como pegar algo que está caindo do caminhão de mudança. Seria esse o grande terror de nosso tempo? Essa insegurança, essa liquidez do mundo, esse ser sem lastro?
Eu me pego às vezes tentando agarrar aquele álbum antigo no caminhão de mudanças, aquele trabalho na quarta série que minha mãe guardou com minha mão pintada e a data (10 de maio de 1981, Dia das Mães, Te amo mamãe, escrito pela professora com letra redondinha), um amigo que não vejo há muito (vi-o no Facebook dia desses e não mandei mensagem), um sorriso que engavetei por algum motivo que nem lembro mais. Eu me pego às vezes tentando agarrar aquele álbum antigo no caminhão de mudanças, aquele trabalho na quarta série que minha mãe guardou com minha mão pintada e a data (10 de maio de 1981, Dia das Mães, Te amo mamãe, escrito pela professora com letra redondinha), um amigo que não vejo há muito (vi-o no Facebook dia desses e não mandei mensagem), um sorriso que engavetei por algum motivo que nem lembro mais. Mas é tão grande a profusão de coisas que você precisa (?) fazer, são tantas (?) responsabilidades que você às vezes se nota num caminhão já vazio, indo em direção a uma nova casa que nem sequer sabe onde fica.
Mas hoje ninguém tem mais álbuns para cair do caminhão. Meus álbuns estão guardados na última gaveta de minha estante. Festas de aniversário com penteados constrangedores, as festas temáticas em Gaibu, reuniões de confraternização com os amigos da loja em que trabalhava de auxiliar de limpeza no final dos anos 80, aulas especiais para meus alunos de espanhol da Fisk, meu primeiro trabalho com professor. Tudo guardado. Se houvesse um incêndio no meu prédio ou uma cheia que chegasse no terceiro andar ou uma infestação de traças ou aquela mudança fatídica, talvez perdesse esses álbuns.
Hoje tenho Flickr: pago quarenta e seis reais por ano para manter essas fotos arquivadas. Nenhuma delas em papel. Fico pensando se alguma multinacional inescrupulosa comprar o Flickr e decidir que o preço agora são trezentos reais para eu preservar minha memória. E memória tem preço? Eu pagaria ou deixaria aquelas imagens – meu filho na praia, a viagem a Triunfo, FreePorto – todas num limbo, eternamente, esperando o resgate? Não sei. Tudo tão líquido, escorrendo pelos dedos. Preciso tomar uma decisão.
Peraí, vou aqui, fazer um backup de minha vida e volto já.
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