“De modo que consideramos o conceito de coletivo literário uma falácia. Mais: os chamados grupos literários ou coletivos literários, que curiosamente são uma febre em cidades como São Paulo ou Recife, a exemplo do grupo Poesia Maloqueirista ou Urros Masculinos, não passam de um equívoco, baseado em ideias românticas como as citadas anteriormente. Por último, mas não menos importante, cabe ressaltar que esse ‘reunismo literário’ é, na verdade, uma estratégia que, embora dotada de alguma legitimidade, porquanto esses grupos tentam inserir-se em sociedade sob o disfarce dessa ‘voz’ coletiva, redundam em um embrólio, um engodo, para ocultar uma verdade irrefutável: de que a literatura produzida por esses jovens nesses primeiros anos do século XXI, requer muito trabalho estético para poder ser digna de nota.”
Wellington de Melo, “citando” Antonio Candido em Terrorismo Semiótico.
A professora Jacineide Travassos deve desconhecer completamente o conceito de ironia, o que me espanta, já que ela é uma estudiosa da obra de Dante. Sendo também uma estudiosa de Dante, deveria ter o humor mais apurado para perceber o que faço ao ‘criar’ uma crítica negativa ao Urros. Isso, Fábio, só mostra o quanto respeitamos o valor da crítica e seu poder de legitimação. Se a ‘crítica’ da professora Jacineide Travassos levasse em conta, por exemplo, a pobreza da construção intertextual que fiz e a fragilidade do meu texto, o contraste disso com o elemento cênico do capuz (pura ironia, mais uma vez), a minha fala, repetida diversas vezes durante a apresentação, “É que dizem que sou muito subversivo, quero preservar minha família de represálias”. Se a crítica levasse isso em consideração e julgasse fraca a apresentação pelos motivos X, Y ou Z, eu me resignaria e tentaria melhorar o que foi falho. Resmungar, não vale. Pode ficar consternada, professora. Isso só é um elogio, pois toda grande obra de arte (não sei se foi aquele o caso, certeza que não) é aquela que nos tira da zona de conforto, que nos consterna de alguma forma. Muito obrigado.
Agora, em se falando em eventos, o Laboratório foi um espaço em que você poderia dizer exatamente tudo o que achava, ou não? No espaço curto de tempo que o evento permitia, claro, com o formato que nos propusemos. E acredito que você fez isso, ou não? Eu ouvi ali suas posturas sobre a poesia de Miró, sobre o hermetismo (eu li parte de sua tese para preparar o encontro), sobre a poesia brasileira contemporânea. O que não se pode é se fazer média de um lado e criticar do outro, o que não acho que é seu caso. Não é? Marcelo Sandes, em comentário no blog do Café Colombo, deu-me uma luz nessa questão:
“(…) não faltam apenas bons escritores, há ausência principalmente de críticos consistentes que ultrapassem, por esmero profissional, nossos traços de cordialidade e personalismo – tão presentes, entre outras ocasiões, nas festividades.”
Marcelo Sandes, no blog do Café Colombo
Sobre o texto de Eduardo Maia, publicado na Eita!, eu escrevi um comentário no mesmo blog do Café Colombo, sobre um post de teor semelhante, solicitando que ele escrevesse sobre esses autores fracos de que ele fala, fundamentando sua posição, mas dando nome aos bois, como os críticos literários devem fazer. Acho que é assim que se faz crítica literária, ou não? Para mim, o resmungo puro e simples é inócuo. Eu já bati nesta tecla inúmeras vezes, mas só ouço silêncio, talvez porque o que escrevi e outros que vejo escrever não seja digno de nota ou porque nem sequer leram o que escrevi ou o que outros escreveram. A resposta de Eduardo Maia convenceu-me em parte, mas fica uma grande esperança, pois sua resposta incluía o seguinte trecho:
“Em primeiro lugar, minha consideração anterior, obviamente, é uma generalização e não tem nenhum elemento de legitimação argumentativa… O interessante e propriamente crítico seria fazer o que você propõe: uma análise de casos particulares. Por isso, meu comentário servia mais como uma provocação do que como um argumento. (…)
Mas claro, continuo em meras generalizações, como você bem alertou. Estou vivendo faz alguns meses fora do país e, de fato, não tive acesso a textos recentemente publicados. Meu projeto, quando voltar, é, justamente, entre outras coisas, dedicar-me, de forma mais sistemática que antes, à crítica cultural (porque, no Recife, se alguém se dedica somente à crítica literária, morre por inanição física e intelectual). Portanto, o texto que você me pede é justamente o que pretendo fazer. E não somente um.”
Eduardo Maia, no blog do Café Colombo.
O que eu sempre defendi no Urros, e acho que essa é uma postura de Bruno e Artur também, é: precisamos nos ler para entender o que é ou não relevante, mesmo o que nós, do Urros, escrevemos. Melhorar o que nós escrevemos, chegar a outro patamar algum dia, talvez. Eu li seu último livro, li o de Helder Herik, o de André de Sena, os de Artur Rogério, o de Everardo Norões. E tenho posições críticas sobre cada um deles, sobre o que me agradou e o que não me agradou. Mas minha práxis não é, necessariamente, escrever crítica literária. Não é meu papel.
Por último, Fábio, a despeito do que acham, o que eu quero é que leiam o que escrevi e me façam ver o que funcionou e o que não. Só assim crescemos, só assim evoluímos. Apenas os imbecis são avessos à crítica. Mas são imbecis também os que aceitam crítica sem fundamento, o que batizei – já que a onda agora é batizar as coisas – de ‘resmunguismo literário’.
Então, um conselho a todos que tenho lido nesses últimos dias aqui pelo Facebook: peguem um livro na sua estante ou comprem um lançamento de qualquer autor contemporâneo, em Pernambuco ou no Brasil, e exerçam a crítica viva, sobre a literatura que está sendo produzida agora. Não precisa abandonar suas paixões do século XIX ou mandar Dante ao Inferno (desculpem o trocadilho). É apenas um exercício. Essa literatura precisa disso de vocês: que critiquem, com toda a sinceridade e toda a capacidade que vocês têm, estabelecendo pontes entre a produção atual e tradição, usando, enfim, o método que acharem melhor. Não estou pedindo afagos à nova geração de escritores nem aos escritores consagrados que continuam escrevendo, muito pelo contrário. Peço uma crítica séria, de acordo, vejam só, com a tradição da crítica. Só isso. Só aí, nesse momento, merecerão ser lidos também, enquanto críticos da literatura contemporânea.
Agora, ninguém é obrigado a se interessar pela literatura contemporânea. Nesse caso, o comentário de Cristiano Ramos, ao mesmo post de Eduardo Maia no Café Colombo, me parece muito oportuno. Disse Ramos:
4 Comentários
Luz
Postado às 19:05h, 14 janeiroOi Wellington, você não me conhece, mas frequentei o Laboratório (um excelente projeto por sinal!Parabéns!) e também a freeporto. Sou apenas um aluna do curso de letras,mas uma amante da literatura e acredito que meu comentário seja válido. A freeporto deixou algumas coisas a desejar,mas não sou eu quem vai dizer o que estava certo ou errado,até porque não faço esse “gênero não vi,não gostei”,só acho que certas críticas (como as que foram citadas nessa carta a Fábio) devem ser aceitas com maturidade, coisa que eu não vi. Me perdoe se estou sendo petulante. Sou jovem(22 anos) e também acho que a literatura não deve feder a mofo,mas não é qualquer coisa que é literatura(falo isso de ALGUMAS apresentações que vi no sábado, é delas que falo pois foi as que vi). Talvez se a freeporto ao invés de festa literária fosse uma festa cultural,certas apresentações fossem cabíveis e ai algumas críticas não incomodassem tanto. Sinceramente achei de um tom muito infantil essa sua carta, e realmente me surpreendi com sua atitude, não espereva isso. Espero que não crie inimizades, é apenas um comentário de quem não faz parte do meio, apenas ama literatura e está vendo as coisas “de fora”.
Wellington de Melo
Postado às 07:13h, 15 janeiroOlá, Wanessa.
Que bom que participou do Laboratório. Este ano teremos a segunda temporada. Na próxima semana a primeira temporada passa a ser exibida na TV Pernambuco.
Sobre as cartas, infelizmente você não vai poder ter a dimensão de toda a discussão, pois pois as duas pessoas que teceram as ‘críticas’ apagaram deliberadamente seus perfis para que não se visse o ‘tom’ deles. Se achou o meu infantil, se surpreenderia com o que encontraria ali.
De qualquer forma, nós, que tentamos realizar qualquer evento, não pelo dinheiro, porque não ganhamos um centavo com a FreePorto, sempre estamos sujeitos à crítica e isso é muito normal. E não se preocupe com isso de idade: não é a idade que diz quem é capaz ou não de realizar as coisas, muito menos um título universitário.
Espero que continue participando desses eventos, mas não se esqueça: eles não são literatura e, toda a crítica que se faz a eles não pode obscurecer a produção de quem está envolvido neles. Toda crítica literária se faz a partir dos textos. Minha carta era nesse sentido: para que as críticas voltassem ao texto e não à ‘vida literária’.
Abração e volte sempre.
Wellington de Melo
Postado às 14:54h, 05 janeiroVi seu comentário no blog do Café Colombo e respondi por lá também. Bom esclarecimento. Acho que por esse caminho vamos bem. Remeterei o livro em breve. Abraço!
Eduardo Cesar Maia
Postado às 16:46h, 04 janeiroOpa, Wellington,
Como vai?
Terei o maior prazer e interesse em ler seu livro.
Respondi teu comentário lá no blog do Café…
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