Roberto Piva faleceu hoje à tarde em São Paulo.
Descobri Piva ao acaso, garimpando na seção de poesia de uma livraria que cobrar horrores, mas serve um bom cafezinho. O volume era “Um estrangeiro na legião”, o primeiro da trilogia que viria a ser sua obra reunida (os outros exemplares são Mala na Mão & Asas Pretas: obras reunidas, volume 2, [2006] e Estranhos Sinais de Saturno: obras reunidas, volume 3, [2008], todos pela editora Globo).
Me pegou de jeito. Os primeiros versos que li de Piva foram:
as mentes ficaram sonhando penduradas nos esqueletos de fósforo
invocando as coxas do primeiro amor brilhando como uma
flor de saliva
Algumas pessoas falam da influência de Piva em [desvirtual provisório], meu segundo livro, mas realmente eu só o li depois de terminar a quarta parte. Eu já dava o livro por terminado quando a leitura avassaladora de Paranoia me levou a escrever o último poema do livro, [O PÓ]. Esse, com certeza, foi escrito sob sombra do xamã e foi como um grito de despertar, de uma nova percepção e consciência de meu papel e da condição de ser escritor nessa época em que vivemos.
Pouco menos de um mês depois do editor Massao Ohno, que publicou o próprio, Piva se foi. Poeta maldito, como parecem ser aqueles que não medem palavras rumo ao abismo que é a sua própria letra. Não digo que descanse em paz, porque é um poeta de semear caos. Esse é seu legado e sua letra reverberará eternamente, qual maldição para os poetas de gabinete. A ele, adeus.
no exílio onde padeço angústia os muros invadem minha memória
atirada no Abismo e meus olhos meus manuscritos meus amores
pulam no Caos
Roberto Piva, 1937 – 2010.
2 Comentários
Carlos Maia
Postado às 23:23h, 08 julho“no exílio onde padeço angústia os muros invadem minha memória
atirada no Abismo e meus olhos meus manuscritos meus amores
pulam no Caos” (Roberto Piva)
Cara, nunca me identifiquei tanto com um verso de um poeta como este de Piva! Tomei a liberdade e postei no meu blog:
http://poetacarlosmaia.blogspot.com/
fez-me lembrar Ginsberg.
Wellington de Melo
Postado às 23:56h, 08 julhoÉ um poeta monstruoso. Gostaria de tê-lo conhecido antes.