O convite era para participar de um evento promovido por uma escola municipal do Pina. Fernando Farias recomendou meu nome e me avisou.
Dias depois a coordenadora da escola entrou em contato por email. Disse que era um projeto para aproximar os alunos do colégio dos escritores locais. Pediu que recomendasse alguns poemas de meus livros. Eu disse que deixaria um exemplar de cada na portaria e que ela poderia pegar. A coordenadora disse que o objetivo era que os professores trabalhassem com os alunos em sala os textos dos escritores convidados. Seria um bate-papo com os alunos, pelo que tinha entendido. Pensei em falar mais sobre a produção contemporânea na cidade e mostrar alguns caminhos para publicar pela internet, mais para incentivar a produção.
CONCERTO DE LEITURA?
A primeira coisa que me deixou preocupado foi quando a coordenadora disse que a coisa seria na quadra do colégio – chamava-se Concerto de Leitura. Achei que seria muito, fiquei intimidado, mas não me recusei a falar. Chegou o dia. Uma sexta-feira. Nos arrumamos e fomos ao colégio. O que se segue foi muito emocionante pra caber aqui, mas vou tentar.
Chegamos e havia pouca gente. Poucos alunos – disse a coordenadora – por conta do incêndio de dias atrás no Bode: muitas famílias se re-estruturando. Conversei com a professora Ana Cláudia, que estava responsável pelo projeto. Muito preparada, teceu comentários bem pertinentes sobre o que leu dos dois livros (O diálogo das coisas e [desvirtual provisório]). Então me mostrou os trabalhos que os alunos tinham feito. Eram alunos da EJA e o trabalho da professora parecia ter sido muito bem feito, porque os alunos, à sua maneira, tocaram temas importantes da obra, muitas vezes criticando certos posicionamentos que assumo em alguns poemas, como “Eu me abandono”, que foi lido lindamente por uma senhora que despejou sua emoção na leitura, ainda que titubeasse com as letras.
Uns leram poemas, outros análises de textos, a professora fez uma apresentação muito legal e eu ali, embasbacado com tanta beleza. Não foi egolatria não, porque eu ficava maravilhado em comprovar como a literatura pode levar as pessoas a pensar sobre suas vidas e sobre o mundo, como tudo o que eu tinha escrito não me pertencia mais. Achei tão bonito os livros correndo por aquelas mãos cansadas, de gente que quer algo mais, que luta para aprender a ler.
A LEITURA
Mas o momento mais marcante foi quando fui fazer a leitura de dois poemas. Li “Fábula” porque achei que alcançaria mais o público. Depois, anunciei que leria “Wellington de Melo”. Quando disse as primeiras palavras, um alvoroço no fundo da quadra. Pensei que eram alunos badernando e li mais alto, para não me desconcentrar. No final da leitura, o mesmo grupo fez zoada. Não liguei. Depois de alguns minutos, agradecendo a todos por poder estar ali entre eles, uma menina começou a falar comigo. Disse que ela e o grupo tinham se preparado para fazer um teatro mudo de “Wellington de Melo”, mas que alguns faltaram e não deu pra fazer. Tinha trazido um vestido, props e coisa e tal. Quando eu li os primeiros versos, foram eles que fizeram a zoada, emocionados em ouvir o poema que tinham estudado tanto. Eu fiquei com a cara no chão, emocionado. A menina disse que o poema emocionou o grupo e isso me tocou demais.
Saí em estado de graça. Não tinha ideia de que seria tão arrebatadora a experiência. Vontade de continuar escrevendo, vontade de que isso sirva de alguma coisa pra alguém.
o peso do medo.
11 Comentários
Everardo Norões
Postado às 08:01h, 02 julhoCaro Wellington:
Estamos de parabéns quando a poesia entra nas escolas. É certamente sinal de que algo está mudando. Coincidentemente isso acontece quando as ‘academias de letras’ começam a dar mostra de franca decadência. Forte abraço,
Everardo Norões
Wellington de Melo
Postado às 08:42h, 02 julhoAs “academias de letras” (mantenho as aspas) parecem servir para pouco além de alimentar egos, amigo. Obrigado mais uma vez pela visita.
nike (sou querido amigo)
Postado às 09:51h, 13 maioAtenção :
;-)Amigo Poéta por favor abra e-mail mandei 12/05/2010(hotmail), é importante . :-)Uma idéia que veio com a luz da criatividade . Mandei para hotmail porque não consegui pelo”espaço de contato” … O e-mail tem o seguinte texto escrito por mim direcionado para vc…
“O Orientador do futuro”
Querido leia e me mande email falando do q/ achou … bjs NIKE ..
nike (sou querido amigo)
Postado às 20:52h, 11 maioQuerido amigo agradeço seu carinho!!! Saiba q/ sempre soube que nossa amizade era verdadeira sem tempo e sem documentos…
Humano amigo :-)
… Os verdadeiros amigos não se energizam com a escuridão do tempo; dizem sim a luz atemporal de saber soprar a inteligência da sensibilidade fazendo crescer dentro do outro o sentimento de compartilhar “vida “…
…..Rosita ..
Essas palavras são exclusivas para meu querido amigo poéta …
Wellington de Melo
Postado às 21:40h, 07 maioObrigado, Rosita! Saudades do seu sorriso!
nike (sou querido amigo)
Postado às 20:53h, 07 maioPop zen
Composição: Alexandre Leão/Manuca Almeida/Lalado
http://letras.terra.com.br/ivete-sangalo/105708/
nike (sou querido amigo)
Postado às 20:34h, 07 maio:-0 Amigo Wellington eu li o seu texto sobre o encontro com as crianças da escola municipal do PINA e tudo é tão rico ,tão próximo de mim pois passei a minha vida frequentando escolas municipais porque minha mãe e professora e agora pedagoga …já fiz e levei bolo para as crianças de duas turmas onde ela ensina agora e foi aquela festa … hahahhahahhahhahahha ….amei, amei amigo foi FANTÁSTICO !!!
:-) Guanhei das crianças , da classe um maravilhoso abraço coletivo de quase vinte anjinhos ou pestinhas em fim miniaturas de gente que precisam da nossa atenção ,muita atenção e um dispertar para a vida com qualidade …………
Amigo quero ver seu filhinho lindo e sua esposa quando for a Recife … SAUDADES AMIGO !!! Bem Wellington , estou muito feliz pela sua esperiência , diria até me emocionei :-( !!! Pensei , pensei e acho que essa música , essa letra tem tudo haver com o que vc escreveu e passou no texto …
Beijão querido na familia sempre !!! NIKE
Composição: Alexandre Leão/Manuca Almeida/Lalado
Tudo que você tem não é seu
Tudo que você guardar
Não lhe pertence
Nunca lhe pertencerá
Tudo que você tem não é seu
Tudo que você guardar
Pertence ao tempo, que tudo transformará
Só é seu aquilo que você dá
Tudo aquilo que você não percebeu
Tudo que não quis olhar
É como o tempo
Que você deixou passar
Composição: Alexandre Leão/Manuca Almeida/Lalado
Tudo aquilo que você escondeu
Tudo que não quis mostrar
Deixe que o tempo, com o tempo
Vai revelar
Só é seu aquilo que você dá
O beijo que você deu
É seu, é seu
É seu beijo
Verônica Taveira
Postado às 09:21h, 02 maioVocê escreveu um texto muito carinhoso! É muito bom saber que estamos dando passos acertados ao encontro da fruição literária. A tua participação na escola nos trouxe a segurança de que é possível realizar algo mais na escola pública. Abraços.
Wellington de Melo
Postado às 09:39h, 02 maioEu é que agradeço imensamente os momentos que vivi ali. Abraço!
José Jaime Junior
Postado às 12:54h, 27 abrilPoxa! Até eu me emocionei lendo aqui, imagina ao vivo? Parabéns!
Wellington de Melo
Postado às 14:50h, 27 abrilValeu mesmo!