Fui classificado no concurso de poesia da Biblioteca de Afogados. O email que recebi dizia “classificado”, então acho que não fui um dos vencedores.
Os poemas selecionados foram “Fotografia” e “Fábula”, ambos de O peso do medo. Esse último eu tinha mostrado a um amigo que não gostou, talvez pelo caráter social do poema. Não sei como um livro como O peso do medo pode ficar voltado pro próprio umbigo e não ter uma consciência de classe. Nem falo de ideologia, porque mesmo uma poesia autista guarda uma ideologia. Não sei também como ignorar minha condição de classe média e não verter isso no livro (essa foi outra crítica de outro amigo). É toda aquela história de que o poeta não deve necessariamente repetir o seu discurso, mas simular vozes.
Revisei hoje para ver se tiraria algum poema, mas a verdade é que compreendo as fragilidades de alguns textos e a força de outros; assumo que o livro se compõe de todos esses filhos, com suas idiossincrasias. Não sei se mudaria nada mais. Também não lembro de ter lido nenhum livro de poemas que me pegasse do início ao fim. Nem mesmo Pessoa, nem Baudelaire. Acho que sempre haverá poemas que te pegam e outros que são um respiro para a próxima tempestade. Tirar o fôlego do leitor a cada página é meio impossível. O livro recém lançado de Fábio Andrade, A transparência do tempo, por exemplo, é para mim excelente, mas perde muito de sua força na última parte, que tem poemas amorosos (a sombra de Rilke nos avisando pra ter cuidado com poemas de amor é uma constante). Mas não acho que isso faça mal ao livro, é simplesmente a sua maneira de existir (se bem que não noto uma unicidade que obrigasse Fábio a colocar aquela última parte, sem a qual o livro ‘funcionaria’).
Enfim, continuo deixando esse livro descansando enquanto procuro uma maneira de publicá-lo.
Sem comentários